Esquema desviou mais de R$ 6 bilhões de aposentados e pensionistas; operação apreendeu carros de luxo, joias e dinheiro vivo
Vítimas eram idosos, analfabetos e sem acesso digital
A Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que a maioria das vítimas da fraude bilionária no INSS era composta por idosos analfabetos ou com pouco conhecimento digital. Esses beneficiários foram alvo fácil de um esquema que desviou mais de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024, conforme aponta relatório divulgado após investigações em todo o país.
Descontos indevidos sem autorização
A fraude consistia na cobrança de mensalidades indevidas por parte de entidades conveniadas ao INSS. Esses valores eram descontados diretamente da aposentadoria ou pensão dos beneficiários, sem qualquer autorização formal. Em coletiva, o ministro da CGU, Vinícius Carvalho, afirmou que as associações envolvidas prometiam vantagens como descontos em academias e planos de saúde — benefícios que não eram de fato oferecidos.
Assinaturas falsificadas e falta de controle
Entre abril e julho de 2024, a CGU entrevistou 1.273 beneficiários com descontos em folha e constatou que 72,4% deles desconheciam completamente a cobrança. O restante afirmou ter autorizado ou pedido cancelamento posteriormente, mas enfrentou dificuldades. A investigação identificou falsificação de assinaturas e falhas graves nos sistemas de controle do INSS, que permitiram que terceiros manipulassem a adesão dos beneficiários às associações fraudulentas.
Apreensões milionárias e bens de luxo
A operação conjunta da Polícia Federal e da CGU, realizada em 23 de abril, cumpriu 211 mandados de busca e apreensão em 34 cidades, além de seis mandados de prisão temporária. Os agentes apreenderam R$ 41 milhões em bens, incluindo:
• R$ 470 mil em dinheiro vivo
• R$ 1,26 milhão em moedas estrangeiras
• R$ 34,5 milhões em carros de luxo
• R$ 727 mil em joias e semijoias
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, também foram confiscadas obras de arte e outros objetos de alto valor.
Presidente do INSS e cinco servidores afastados
A fraude já resultou no afastamento e posterior demissão de Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, indicado pelo PDT de Carlos Lupi. Stefanutto é servidor de carreira desde 2000 e já foi filiado ao PSB. Além dele, outros cinco servidores também foram afastados:
• Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS
• Giovani Batista Fassarella Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento
• Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão
• Jacimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios
• Philipe Roters Coutinho, agente federal
CGU aponta vulnerabilidade como facilitador da fraude
O relatório final da CGU alerta que a falta de familiaridade digital, aliada à ausência de mecanismos eficazes de controle no INSS, deixou milhões de idosos suscetíveis à atuação de entidades mal-intencionadas. O órgão pede reformas urgentes para garantir maior proteção aos beneficiários e evitar que fraudes semelhantes voltem a acontecer.