Início do conclave marca momento histórico para a Igreja Católica após morte de Francisco
A fumaça preta que saiu da chaminé da Capela Sistina nesta quarta-feira (7) confirmou o que já era esperado por muitos dentro e fora do Vaticano: o primeiro dia do conclave terminou sem a escolha de um novo papa. Este é o início de um processo que poderá durar dias, mobilizando a atenção do mundo católico após a morte do Papa Francisco, no mês passado.
Cerca de 45 mil fiéis se reuniram na Praça São Pedro, sob expectativa, silêncio e oração, para acompanhar o resultado da primeira votação. Ao verem a fumaça preta subir, entenderam que, ao menos por ora, o sucessor de Francisco ainda não foi definido pelos cardeais.
Fumaça preta: o que significa e por que é importante
No ritual do conclave, a cor da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina carrega um significado direto e poderoso: fumaça branca indica a eleição de um novo papa, enquanto fumaça preta sinaliza que não houve consenso.
O primeiro sinal de fumaça nesta quarta-feira — escura e espessa — confirmou o impasse. Esse desfecho já era aguardado por especialistas e religiosos, já que o primeiro dia de votação costuma ter caráter simbólico, funcionando como uma introdução política e espiritual ao processo de escolha.
Maior demora dos últimos conclaves levanta hipóteses
Outro ponto que chamou atenção foi o tempo decorrido até a liberação da fumaça. Foram cerca de três horas entre o fechamento das portas da Capela Sistina e o resultado da primeira votação, tornando este o mais longo primeiro dia entre os três últimos conclaves.
Segundo o jornalista César Tralli, da TV Globo, uma das hipóteses para essa demora é a possibilidade de que uma pregação antes da votação tenha se estendido além do previsto. Outra razão levantada por fontes no Vaticano é que a maioria dos 133 cardeais votantes está participando pela primeira vez de um conclave, o que pode ter exigido mais tempo para orientações e entendimento dos procedimentos.
Primeiro dia costuma ter votos simbólicos
Embora seja um momento de decisão, o primeiro dia do conclave raramente resulta na escolha de um novo pontífice. Nessa fase, muitos cardeais oferecem votos simbólicos a colegas, como forma de reconhecimento, cortesia ou para testar a recepção de nomes entre os demais eleitores.
É nas votações dos dias seguintes que os candidatos reais ganham força, com as alianças se tornando mais claras e os grupos internos da Igreja buscando consenso em torno de um nome capaz de unificar as diferentes correntes teológicas e políticas.
Processo de votação: como funciona e o que esperar do segundo dia
O conclave seguirá nesta quinta-feira, 8 de maio, com até quatro rodadas de votação previstas. Os horários (no fuso de Brasília) são os seguintes:
• 5h30 – Primeira votação do dia. Se o papa for escolhido, sairá fumaça branca. Caso contrário, não haverá fumaça nesse horário.
• 7h – Segunda votação do dia. Se ainda não houver consenso, a fumaça preta será emitida.
• 12h30 – Terceira rodada de votação.
• 14h – Quarta e última votação do dia.
A cada rodada, os cardeais colocam seu voto em um pedaço de papel com a inscrição “Eligo in Summum Pontificem” (“Elejo como Sumo Pontífice”). Os votos são contados manualmente, e os papéis queimados em um forno com produtos químicos que geram a cor da fumaça — preta para impasse, branca para eleição.
Dois terços dos votos: o desafio do consenso
Para que um cardeal seja eleito papa, ele precisa obter dois terços dos votos válidos, o que, com os 133 cardeais eleitores, significa pelo menos 89 votos.
Esse critério reforça a necessidade de unidade e dificulta escolhas precipitadas ou polêmicas. É também um filtro natural que impede favoritismos iniciais de se concretizarem sem amplo apoio.
Unidade da Igreja é prioridade entre os cardeais
A busca por um conclave rápido não é apenas uma questão de eficiência, mas também de imagem institucional. Um conclave prolongado pode indicar divisões internas e desacordos entre alas conservadoras, progressistas e moderadas do colégio cardinalício — algo que o Vaticano deseja evitar.
As últimas duas eleições papais — a de Bento XVI, em 2005, e a de Francisco, em 2013 — foram concluídas em apenas dois dias. A média de duração dos últimos dez conclaves foi de 3,2 dias.
Caso o conclave ultrapasse três dias sem acordo, as normas prevêem uma pausa de 24 horas para reflexão e oração entre os cardeais, buscando clareza espiritual para as votações seguintes.
Expectativa global e papel do novo papa
O próximo papa terá a missão de liderar a Igreja Católica em um cenário desafiador, marcado por tensões internas, necessidade de renovação, crises morais e transformações no perfil dos fiéis pelo mundo. A expectativa de milhões de católicos é por um líder capaz de dialogar com o presente sem abandonar os fundamentos milenares da fé.
Enquanto isso, o mundo assiste ao desenrolar do conclave, aguardando com atenção — e fé — o momento em que, enfim, a fumaça branca subirá, anunciando ao mundo: Habemus Papam.