Residências foram derrubadas sob protestos de moradores
Quatro casas localizadas na Praia do Forte, em Florianópolis, foram demolidas na manhã desta terça-feira (29), encerrando uma disputa judicial que se arrastava há mais de três décadas. As construções ficavam próximas à histórica Fortaleza São José da Ponta Grossa, em uma área considerada patrimônio da União e tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Apesar da resistência dos moradores, que passaram a noite em vigília, as máquinas avançaram e executaram a ordem judicial. Vídeos registraram o momento das demolições, com cenas emocionantes de protestos e lágrimas.
Área tombada sob gestão federal
A decisão de demolição se baseia na proteção do território onde estavam os imóveis. A área é tombada e gerida pelo Iphan, o que impõe restrições severas para construções ou alterações. Segundo a Superintendência do Patrimônio da União (SPU), os moradores foram notificados em 23 de abril e receberam um prazo de 72 horas para a desocupação, encerrado na manhã desta terça-feira.
Embora oito casas estejam situadas na área protegida — duas delas com restaurante e quiosque —, apenas quatro foram incluídas na ordem de demolição.
Conflito histórico: mais de três décadas de disputa judicial
A disputa judicial remonta a 1991, quando a União iniciou o processo de reintegração de posse. A área, segundo moradores, pertence à família há 150 anos. Ivânio, um dos moradores afetados, afirma que o bisavô dele teria sido um dos responsáveis pela construção da fortaleza histórica.
Apesar disso, em 1984 a União impôs condições para a permanência das famílias no local: não ampliar os imóveis e não transferi-los sem autorização. Com o crescimento das famílias e modificações realizadas, as regras foram descumpridas. Euclides Alves da Luz, que liderava os moradores na época, foi intimado a demolir as ampliações e desocupar a área, o que nunca ocorreu.
Vídeos mostram demolição de casas na praia do Forte
Pandemia adiou a retomada em anos anteriores
A desocupação foi adiada ao longo dos anos por decisões judiciais e, mais recentemente, pela pandemia de covid-19. Em 2013, Euclides foi autorizado a permanecer até sua morte, ocorrida em 2015. Desde então, oito dos seus 11 filhos continuam vivendo na localidade.
Entre 2020 e 2021, a União tentou retomar o terreno para dar andamento a obras de restauração e valorização do patrimônio histórico. No entanto, a crise sanitária impediu a concretização da medida na época.
Memória, identidade e disputa por território
Para os moradores, a luta vai além da permanência física: trata-se da preservação de uma identidade construída ao longo de gerações. Já para os órgãos públicos, a decisão visa proteger o patrimônio cultural brasileiro.





A demolição das casas marca o fim de um capítulo importante, mas acirra o debate sobre a ocupação de áreas históricas, direitos de comunidades tradicionais e os limites da preservação cultural.